A amizade nossa de cada dia. Texto II

10:57


Vamos começar falando sobre o tempo, porque sempre que não temos ideia de como puxar papo com alguém, recorremos ao bom e velho assunto sobre o tempo.

O tempo naquele momento eu sei que não estava bom, o clima também não.

O clima entre nós estava daquele jeito, com pancadas de realidade e ficção, ar atmosférico sério vindo do sul contra a forte corrente que tentava trazer um tom mais humorado à conversa.

Ela não dizia coisa com coisa, tentava, tentava e nada. 
Ele insistente queria convencê-la de que estava certo. Bom que ambos possuíam argumentos válidos, mas de nada adiantava já que um anulava o outro.

- Hey gato!
- E aí gata. Posso te trazer uma bebida, um vinho talvez?
- Claro! In vino veritas.¹. -Disse ela- Você vem sempre aqui?
- Venho aqui só pra te ver na verdade.
- Uou, que meigo da sua parte. Se essa foi a sua melhor cantada precisa dar uma melhorada, mas até que funcionou. – Com uma típica passada de mãos pelo cabelo ela pôs no rosto um meio riso irônico e sedutor. – Tá a fim de dançar I put a spell on you? – Disse ela e sem esperar pela resposta se levantou, pegou o iPod e colocou na caixinha de som.
- Claro que sim minha querida, eu adoraria dançar com você. –Ele fala irônico. - Mas depois vamos dançar you can leave your heat on. E aí quem vai dançar vai ser você!
-Oi? Como assim? – ela fez cara de desacreditar no que estava ouvindo. –Ok, dançar uma música mais rápida do que o de costume de vez em quando não faz mal, mas nem pense em fazer qualquer coisa que não seja dançar!
Ele levantou as mãos em sinal de desistência. Em seguida pegou-a pelas mãos e as fez repousar sobre o ombro, enquanto as dele desciam com vagareza das costas para a cintura dela. Incrível como conseguiam fazer com que cada fio de cabelo se arrepiasse, e era assim, para ambos. Apenas amigos. Esse era o mantra adotado por ambos. Apenas amigos que possuem um pouco mais de intimidade. Pensavam em uníssono.
And I don´t care you don´t want me,... because you are mine.
Cara, aquilo estava tão fifty shades. Ela adorava quando ele ficava autoritário e sério.

 - Ah garoto, você pra mim é como um fruto proibido. Sei que não posso e não devo, mas quero muito! Falou em tom áspero, mas relutante para não cair na gargalhada.
-Então me deixe te levar para o lado negro da força!
Ela ria, de uma forma infantil e descontrolada, como há tempos não fazia.
-Mas eu já sou a própria força meu querido Padawan. - Rebateu com veemência. – e continuaram a se mover lentamente pela sala, cada um imerso em seu pensamentos. “Será que isso já está se tornando algo mais?” “E se ele estiver sentindo o mesmo que eu?” Não, melhor não falar nada. Pensaram em uníssono, como se estivessem em uma conversa por telepatia.
-Então a resposta para isso tudo é o quê? – Ele quebrou o silêncio, indagando com um sorriso de canto de boca.
- A resposta para tudo, como sempre é 42. – Ela respondeu séria. – No entanto aqui acrescentamos um 0 ao final, visto que também possuímos outras práticas, criando assim o número 420 que por pura ironia da improbabilidade é o número do apartamento que estamos neste exato momento.

Acabou-se a primeira música, os olhares se cruzaram e encontrando-se novamente, a seriedade acabou, começaram as gargalhadas contagiosas, se alguém os visse naquele momento os taxaria como loucos. Deixaram-se cair ao chão, rolando em risadas crônicas.


E era assim, do nada estavam dançando, dois bons amigos. Por medo de tudo, nada mais faziam, nada tentavam, tudo era esperado.

Obs:
In vino veritas¹: "No vinho a verdade", frase adotada pelos romanos, diziam que a embriaguez soltava a língua e fazia a verdade vir à tona, o que era verdade, a tática era muito utilizada em períodos de guerra e desconfiança.

Ane.

2 comentários:

  1. Massa, fiquei me imaginando nessa situação.

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    1. Que bom que gostou Edu, essa sempre é minha intenção! =)
      Obrigado pela visita!

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